sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Da Mata




José Caeiro da Mata GCC  GCSE  GCIH  GCIP (Arraiolos, 6 de Janeiro de 1877[1]  Lisboa,3 de Janeiro de 1963), também grafado J. C. da Matta, foi um jurista, professor catedrático de Direito e político português que, entre outras funções, foi deputado durante a Monarquia Constitucional, diplomata, reitor da Universidade de Lisboa, administrador do Banco de Portugal, juiz do Tribunal Permanente de Justiça Internacional e Ministro dos Negócios Estrangeiros e da Educação Nacional do regime do Estado Novo. Foi sócio da Academia das Ciências de Lisboa e da Academia Portuguesa da História, a cuja direcção presidiu.
José Caeiro da Mata nasceu na freguesia do Vimieiro, arredores de Arraiolos, filho de Maria da Conceição Gomes Caeiro e de seu marido Francisco José da Mata, proprietário e comerciante na vila de Arraiolos.
Destinado a continuar a gestão dos negócios paternos logo após terminar a escola primária, a sua inteligência chamou a atenção de alguns notáveis locais que frequentavam o estabelecimento comercial do pai. Daí resultou terem convencido a família a propiciar ao jovem a continuação de estudos, contratando como explicador o cónego Faria e Silva. Admitido a exame como aluno externo, concluiu o ensino secundário a 2 de Outubro de 1899 no Liceu de Évora, matriculando-se nesse mesmo ano na Faculdade de Direito daUniversidade de Coimbra.
Aluno brilhante, formou-se bacharel em Direito a 11 de Julho de 1903, prosseguindo estudos que o levaram à licenciatura a 20 de Março de 1905 e ao doutoramento a 13 de Maio de 1906. Entretanto era já desde 1905 assistente da Faculdade de Direito de Coimbra, passando a lente daquela instituição em 1906. Manteve-se como docente da Universidade de Coimbra até 1919, ano em que se transferiu para o corpo docente da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa.

Na sua tese de doutoramento e na sua produção científica afirmou-se como um jurista próximo da corrente jusnaturalista e avesso aopositivismo que então dominava o pensamento jurídico português. A sua produção científica e as suas lições eram brilhantes, o que o tornou rapidamente notado nos meios académicos e políticos.
A notoriedade académica levou a que Ernesto Rodolfo Hintze Ribeiro, então líder do Partido Regenerador, o convidasse para integrar as listas do seu partido, pedido a que Caeiro da Mata acedeu. Em consequência, nas eleições gerais realizadas a 5 de Abril de 1908(para a 40.ª legislatura da Monarquia Constitucional Portuguesa) foi eleito deputado pelo círculo de Évora, na lista do Partido Regenerador.
Iniciou a sua carreira parlamentar com uma intervenção em que afirmava que a sua autonomia moral e mental, à qual se recusava a renunciar, estava para além da disciplina partidária.[2] Com intervenções radicais e sem contemporizar com os equilíbrios partidários, protagonizou em 1909 um dos mais bizarros incidentes da história parlamentar portuguesa ao envolver-se num duelo com Manuel Afonso de Espregueira, ex-Ministro da Fazenda, a quem, em plena sessão plenária do dia 10 de Março daquele ano, acusara decriminoso e de ter cometido uma fraude ao decidir um empréstimo à Companhia Real dos Caminhos-de-Ferro Portugueses, de que fora administrador e a que estava profissionalmente ligado.[3] A 25 de Abril de 1909, apesar de ambos contendores terem saído ilesos, a maioria abandonou os trabalhos parlamentares, invocando a circunstância de Caeiro da Mata, ao regressar à Câmara dos Deputados, não apresentar desculpas pelo sucedido. Seguiu-se novo duelo, novamente sem ferimentos para os contendores, entre Caeiro da Mata e o líder da maioria parlamentar, Manuel António Moreira Júnior, mas a maioria continua a retirar-se da Câmara quando Caeiro da Mata pedia a palavra. Em resultado, o governo presidido por Sebastião Teles é obrigado a demitir-se, o que contribuiu poderosamente para desacreditar a já agonizante monarquia, inadvertidamente apressando a implantação da República Portuguesa.[4]

Em 1946 chefiou a delegação portuguesa em Genebra, durante o período crucial de realinhamento das diversas potências no pós-guerra e nas conferências multilaterais sobre o futuro da Sociedade da Nações. Nos anos de 1947 e 1948 representou Portugal naConferência de Paris sobre o Plano Marshall e a fundação da Organização para a Cooperação Económica Europeia.
A convite de António de Oliveira Salazar foi Ministro da Educação Nacional no período de 6 de Setembro de 1944 a 4 de Fevereiro de 1947. Durante o seu mandato introduziu importantes reformas no sistema educativo, procurando a sua adequação aos ideais doEstado Novo.
Na remodelação governamental levada a cabo por António de Oliveira Salazar a 4 de Fevereiro de 1947, traduzindo um equilíbrio entre as duas principais famílias políticas que apoiavam o Estado Novo, a ala conservadora afecta a Santos Costa e a ala reformista liderada por Marcelo Caetano, Caeiro da Mata, apesar da sua idade e da já longa permanência no Governo, assume de novo a pasta dosNegócios Estrangeiros, posto que manteria até 2 de Agosto de 1950. Vivia-se o período crucial do pós-guerra, em que a sobrevivência do regime passava por encontrar novos equilíbrios junto das potências aliadas vitoriosas, pouco inclinadas a tolerar um regime autoritário com forte conotação aos regimes vencidos. Neste contexto difícil, Caeiro da Mata, em estreita colaboração com Salazar, conseguiu apaziguar o governo dos Estados Unidos da América, colocando Portugal numa situação de excepção, na qual, em nome da resistência anticomunista o regime era tolerado, embora sendo obrigado a renunciar à ajuda financeira do Plano Marshall e à admissão imediata à Organização das Nações Unidas. Caeiro da Mata anunciou a 22 de Setembro de 1947 que Portugal decidira declinar a utilização do auxílio financeiro americano e a 28 de Setembro de 1948 foi assinado em Lisboa um Acordo Bilateral de Cooperação Económica entre Portugal e os Estados Unidos da América. O acordo, subscrito por Caeiro da Mata e Lincoln MacVeagh, então embaixador dos EUA em Lisboa, inclui Portugal na qualidade de país não beneficiário de assistência financeira, mas permite a sobrevivência do salazarismo.
Também coube a Caeiro da Mata conduzir as negociações que permitiram que Portugal figurasse entre os Estados signatários doPacto de Defesa do Atlântico Norte e por essa via fundador da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO). Na cerimónia de assinatura do Pacto do Atlântico, realizada a 4 de Abril de 1949 em Washington, José Caeiro da Mata, que o subscreveu em representação do Governo português,[8] declarou que: "… mais do que nunca, torna-se necessário defender os princípios e as posições que ocupam no mundo aqueles povos que são depositários dos ideais da civilização ocidental. Dir-se-ia que se repete agora, em torno do Atlântico, em escala muito maior, aquela situação que os povos antigos conheceram, quando as mais belas conquistas do espírito humano e os mais altos expoentes da civilização se concentraram no pequeno e restrito espaço das obras dos seus grandes clássicos. Portugal quer afirmar que não vê no Pacto do Atlântico Norte mais que um instrumento de defesa e de cooperação internacionais".

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